Temas

Musica Ilhavo Recreativo Ilhavo Antigo Ilhavenses Ilustres Lugares Costa Nova Carnaval Religiao Curiosidades Colegio Illiabum Personalidades Bombeiros de Ílhavo Professores Jornais
João Marques Ramalheira
In "Canção do Mar"
Falar de Ílhavo, é falar do mar - do seu sussurro, da sua canção cujo eco se repercute pelos séculos além. Ílhavo e o mar andam tão unidos como o perfume às rosas e a inquietação à alma humana!

Anterior

Músicos Ilhavenses de outrora I

Músicos Ilhavenses de Outrora II


MÚSICOS COMPOSITORES ILHAVENSES II

Pretende-se deixar aqui algumas notas biográficas de compositores musicais Ilhavenses já desaparecidos e que contribuíram para a divulgação da música e da sua terra.

Manuel dos Santos Barreto (1879-1963)

Nasceu no Adro em 18-12-1879, filho de Francisco dos Santos Barreto e Joana Rosa da Conceição, neto paterno de Francisco dos Santos Barreto e Maria Joana de Jesus e materno de Manuel André Senos e Maria Joaquina Amália Torrão. Deste mestre do saxofone, de renome internacional, não há muita coisa escrita e pensamos até que Ílhavo, sua terra natal, lhe estará a dever um maior reconhecimento por tudo o que fez, enquanto músico e na divulgação da sua terra por esse mundo fora. Manuel de Jesus Barreto nasceu em 1879 e foi educado na Casa Pia de Lisboa donde sai para tocar nas Bandas militares de Infantaria 1, 2, 9, 23 e 26, Caçadores 12 no Funchal e Banda da G.N.R. onde cumpre o serviço militar. Emigrou, então, para a América do Norte e começa logo por tocar numa das maiores bandas americanas de sempre, "Sousa's Band", dirigida pelo famoso John Filipe de Sousa, filho de pai português e mãe alemã. De seguida ingressa na Weber's Prise Band of America da cidade de Cincinatti com a qual percorreu toda a costa do Pacífico e mais tarde na reputada Arthur Prior's Band de Willow Grove. Na praia aristocrática do Pacífico,  Palm Beach,  Jesus Barreto toca em várias orquestras famosas e em especial num maravilhoso Hotel de Inverno, que costumava acolher os milionários de então. Jesus Barreto obteve os maiores triunfos em Washington, no grande Teatro Palace e no Palm Beach, interpretando as obras Bonnié Scotland,  Dream (de Bartlet) e Rosary, que empolgavam o público que o ouvia. Tocou ainda no Brasil, Cuba, Nassau, Bahamas e Argentina no afamado hotel Ritz Carlton. Aqui, a sua orquestra foi a responsável pela introdução, neste país, das novas danças americanas. Jesus Barreto passou por bandas, orquestras, companhias teatrais de ópera, operetas, jazz, etc.. Tocava fluentemente saxofone, clarinete, ocarina e serrote musical. Em Março de 1939 o Orfeão Ilhavense tendo como director o Dr. Joaquim Tavares da Silveira e director cénico Abel Costa, inaugura a sua sede na rua Dr Frederico Cerveira, prestando homenagem a Jesus Barreto, que vinha colaborando activamente com o orfeão, estando também presente a Filarmónica Ilhavense. Solteiro, Manuel de Jesus Barreto faleceu na rua Serpa Pinto em 19 de Maio de 1963, com 83 anos de idade, encontrando-se sepultado no cemitério de Ílhavo.

Casimiro Roque Topete (1875-1954)

Não vamos falar de músicos nem de compositores, mas do único construtor ilhavense de guitarras, violões e bandolins.

O Ti Casimiro Topete, tal como era conhecido, nasceu na Carvalheira a 22-09-1875, filho de José Roque Topete e Rosa Pereira, neto paterno de Manuel Roque Topete e Maria Joaquina e materno de Manuel dos Santos Saltão e Joana Rosa Pereira, tendo vivido numa pequena casa da rua da Fontoura e mais tarde, quando enviuvou, perto da Capela de N.S. do Pranto. Em 29-11-1902, casou-se na Igreja Matriz de Ílhavo, com Maria Aquilina, nascida em Cimo de Vila, filha de João Nunes de Castro e Felicidade de Jesus, ele com 27 anos, ela com 24 anos, sem geração, sendo testemunhas José Fernandes Bonito e António Pereira Ramalheira. A sua esposa veio a falecer em 31-05-1951, tendo sido, practicamente uma enfermeira dedicada para o seu marido. Marinheiro de profissão, a doença empurrou-o para um construtor exímio de instrumentos de corda. Embarcou muito cedo, aos doze anos de idade, fazendo viagens por Portugal, Brasil e América do Norte. Desde moço, teve uma grande paixão pelos instrumentos de corda e em especial pelas guitarras. Para melhor conhecer os diferentes tipos de fabrico, comprava, vendendo de seguida, várias guitarras. Quando embarcado, lá ia tocando uns fadinhos nas poucas horas de lazer que desfrutava, até que em 1916, uma doença terrível lhe provoca a amputação da perna esquerda, obrigando-o a permanecer em casa. As dores eram tantas e tão fortes, que as lágrimas corriam-lhe pela face, enquanto consertava os instrumentos. Em 1930 a doença volta e é-lhe amputada a perna direita. Dizia aos seus amigos que assim já não tinha dores e podia trabalhar à sua vontade. Costumava dizer que o seu mestre tinha sido o ti Casimiro, portanto, ele próprio, aprendendo à sua custa e começando por efectuar consertos nos instrumentos e mais tarde a sua construção. Os instrumentos feitos por ti Casimiro eram perfeitos, elegantes, com uma boa sonoridade e com uma particularidade especial: as caixas eram muito estreitas, dando o tal ar elegante já referido e todas as peças eram construídas por ele. O primeiro instrumento que construiu foi uma guitarra, vendida para uma pessoa que a levou para o Brasil, seguindo-se outras para os srs. drs. José Santos, Augusto Bilelo, Eduardo Craveiro, etc.. O ti Casimiro dizia que, se houvesse na altura um concurso em Portugal para apreciar uma guitarra mais perfeita, ele lá estaria, pois não tinha nada a recear. Que se saiba, hoje apenas restam dois exemplares construídos por ti Casimiro: uma guitarra e um violão. Casimiro Topete veio a falecer a 18 de Fevereiro de 1954 com 78 anos de idade, estando sepultado no Cemitério de Ílhavo, em local que não conseguimos descortinar.

 

Violão e guitarra construídos por Casimiro Topete

Armando da Silva (1900-1978)

Armando da Silva nasceu na Chousa Velha, em 07-07-1900, filho de Júlio Maria da Silva e Emília de Jesus, neto paterno de Francisco Maria da Silva e Rosário de Jesus e materno de Manuel da Silva e Joana de Jesus, aprendendo solfejo com seu cunhado José Vidal na Música Nova (na época em que o fardamento tinha um papillon) e aí tocando bombardino. Era um homem muito modesto, talentoso e com uma inspiração musical privilegiada. A primeira referência musical de Armando da Silva na imprensa data de Fevereiro de 1928. Neste ano, no baile de domingo de Carnaval, estreia no Teatro Municipal de Ílhavo, em Cimo de Vila, o Jazz Band da Filarmónica Ilhavense regida por Armando da Silva. Neste  mesmo dia há também bailes de Carnaval no Teatro da Vista Alegre e na Casa Glória do Corgo Comum. Em 6 de Janeiro de 1929, na Praça da República, dirige a Filarmónica Ilhavense num concerto a favor do Hospital. Em 1936 assume a regência da Banda José Estêvão, de Aveiro e um ano mais tarde passa a dirigir a Banda Amizade. Esta passagem por estas duas bandas torna-o conhecido no meio musical Aveirense, sendo convidado a compor duas músicas para a revista "Ao Cantar do Galo" que se estreia nesta cidade a 6 de Junho de 1936. São as conhecidas "Loiças (tango)" e "Folar, Bolo e Cavaca (one step)".

Indicações para a composição "Loiças" da revista "Ao Cantar do Galo" feita por um dos autores

Em 1947, Diniz Gomes dedica "à delicada sensibilidade do artista Armando da Silva", o texto "O Sino da Ronda" da antiga Capela das Almas, mais tarde inserido no seu livro Costumes e Gente de Ílhavo.

Caricatura de Manuel Machado da Graça

De temperamento muito nervoso, Armando da Silva era um maestro por excelência e um compositor nato. Além de reger as bandas atrás referidas, esteve à frente de várias orquestras em revistas, bailes e festas que se realizavam em Ílhavo. Muitas das suas composições, algumas delas de difícil execução, tinham inspiração na música sinfónica, como as aberturas e apoteoses das revistas Ilhavenses "Com Papas e Bolos, Galeota e P'ra Inglês Ver", que ele ajudou a musicar com outros compositores.


Do seu espólio musical destacamos:

  • Minutos de Prazer - valsa

  • Passado e Presente - tango

  • Hino do Orfeão Martins Rosa

  • Loiças - tango

  • Folar, Bolo e Cavaca - one step

  • Responsórios para 5ª Feira Santa - música sacra

  • À Memória de Meu Pai - ordinário fúnebre

  • O Meu Demónio - sinfonia

  • Yó-Yó - Revista Com Papas e Bolos

  • Cravos e Rosas - "  "

  • Litro e Decalitro - "  "

  • Leiteiras - "  "

  • Lápis e Borracha - "  "

  • Apoteose - "  "

  • Lavadeiras - Revista Galeota

  • Passarinhos - "  "

  • Barracas - "  "

  • Galeota - "  "

  • Colarinhos - "  "

  • Apoteose - "  "

  • Sinos - P'ra Inglês Ver

  • Subscrições "  "

  • Hospital e Bombeiros "  "

  • Associações - "  "

  • Mar - "  "

  • Palheiro e Chalet - "  "

  • Apoteose - "  "

  • Marcha Geral de S. João - 1966

  • Marcha de Alqueidão - 1967, 1968 e 1969

Armando da Silva faleceu em 1978 com 77 anos de idade, estando sepultado no Cemitério de Ílhavo.

João Vidal (1920-1988)

João da Silva Vidal nasceu a 12 de Maio de 1920, filho de José Vidal e de Elvira da Silva. Gerado no seio de uma família de músicos, João Vidal começa, desde pequeno, a demonstrar uma rara habilidade para a Arte Divina, que é a Música. Aprende as primeiras notas com José Redondo, pai do padre Redondo e maestro da Música Nova e aos oito anos de idade, já toca, com desenvoltura, clarinete, instrumento que viria a dominar com inigualável mestria, ao longo da sua carreira musical. O professor Duarte Pinho, seu mestre da escola primária, pedia-lhe muitas vezes para ele tocar pequenos trechos musicais nas suas aulas, como o "Chula, Vareira, Chula", "Rapaz Aperta a Faixa" e "Oliveira da Serra", dada a facilidade e destreza com que ele as executava, para gaúdio dos seus colegas e satisfação do seu professor. No entanto, o clarinete não foi o único instrumento que dominou. Aos doze anos já conseguia, com brilhantismo, tocar esse sublime e difícil instrumento que dá pelo nome de violino, sendo seu mestre o ilhavense José Cardoso Pereira. Quem não se lembra das melodiosas valsas interpretadas ao violino por João Vidal? E dos estonteantes solos de clarinete tirados sem pauta nos afamados bailes da época? Durante a sua carreira, distinguiu-se em inúmeros concertos e récitas para piano e violino, assumindo sempre os primeiros instrumentos. Em muitos bailes João Vidal descia do palco com 4 ou 5 instrumentos à tiracolo e tocava-os, alternadamente, por entre os pares que dançavam no salão. Aos catorze anos já fazia parte da orquestra jazz Vista Alegre dirigida pelo seu pai, José Vidal e aos vinte anos assume a direcção e regência. Durante mais de 50 anos foi 1º clarinete da saudosa Banda da Fábrica da Vista Alegre, passando também, além de outras, pela Banda de Loureiro, Visconde de Salreu, Mirense, Eixo, Vaguense, Amizade e como não podia deixar de ser, Música Nova e Música Velha. Sempre duma forma generosa, João Vidal toma parte em concertos, récitas, cortejo de oferendas, música sacra, Reis Magos, marchas sanjoaninas, teatros, etc. Em 1935, como violinista, faz parte da orquestra da revista “A Nossa Escola”, sob a direcção de Berardo Pinto Camelo e também na orquestra das revistas aveirenses “Molho de Escabeche” e “Ao Cantar do Galo”. Foi director musical do “Girassol das Surpresas”, “Acontece Cada Uma” e “Gostos Não Se Discutem” levadas à cena em Ílhavo. Compôs algumas marchas de S. João, obtendo algumas delas o 1º prémio em Ílhavo e Gafanha da Nazaré (marcha do Bebedouro). João Vidal, além de um exímio executante, tinha um ouvido fabuloso, pelo que lhe bastava ler a pauta uma vez, para de seguida, desenrolar todas as notas de uma forma soberba, correcta e ritmada. Era, sem dúvida, um músico com grandes qualidades para poder singrar noutras paragens, mas o seu apego e amor a Ílhavo, não o deixaram receber outros merecidos prémios. Tudo o que fez pela música da sua terra, fê-lo com muito amor. A sua arte, a sua alma de grande executante, fizeram de João Vidal um dos maiores músicos de sempre da nossa terra e do nosso distrito. Era o Génio feito Arte na pessoa de um simples operário da Vista Alegre, que dedicou toda a sua vida à terra que o viu nascer. João Vidal faleceu a 18 de Abril de 1998, estando sepultado no Cemitério de Ílhavo.

Carlos Paião (1957-1988)

Carlos Paião foi um cantor que atingiu grande popularidade na década de 80. Nasceu na cidade de Coimbra e faleceu vítima de um acidente de viação próximo de Rio Maior. Concluiu o curso de Medicina em 1983, mas a sua verdadeira paixão era a Música. A vitória no 6º Festival da Canção do Illiabum Clube, interpretando "Canto de Guerra", em Dezembro de 1978, lançou-o na carreira de cantor. A consagração obteve-a ao vencer o Festival RTP da Canção em 1981 com a canção "Playback", vencendo o festival com a esmagadora pontuação de 203 pontos e nesse ano representou Portugal no festival Eurovisão da Canção. Regressou a este certame em 1983, ao lado de Cândida Branca Flor, com quem interpretou "Vinho do Porto (Vinho de Portugal)", que ficou em 3º lugar no festival RTP da canção. Em 1985, concorreu ao festival de Tóquio, tendo a sua canção sido uma das 18 seleccionadas em mais de 2000 representativas de 58 países. Foi compositor, intérprete, instrumentista, tendo produzido mais de meio milhar de canções, sendo as músicas e as letras todas da sua autoria (Pó de Arroz, Cinderela, Versos de Amor, Pião das Nicas, Zero a Zero, Souvenir de Portugal, Versos de Amor, etc). Faleceu a 26 de Agosto de 1988 encontrando-se sepultado no cemitério de Ílhavo

jm

João Orlando Rodrigues da Madalena (1922-2010)

Nasceu em Ílhavo em 20 de Março de 1922 na Rua do Pedaço. Em 1928 a família muda-se para o Largo do Oitão, já que seu pai teve que tomar conta dum estabelecimento aí existente. Muitos dos clientes desta casa eram bons executantes de instrumentos de corda e João da Madalena começa sentir vocação pela viola e cavaquinho, seguindo os passos dos seus familiares, praticamente todos bons músicos. Entre os 14 e 15 anos começa a aprender solfejo e violino com o Prof. João Marques Ramalheira e de seguida frequenta o Conservatório de Música no Porto. Sendo exímio tocador de violino, fez parte dos grupos musicais que abrilhantaram as Revistas Ilhavenses dos anos 30, bem como da orquestra do Disco de Ílhavo, compondo a canção "Por Ti". São muitas as canções de sua autoria, que ao longo do tempo foi compondo para diversos fins, já que, com o seu espírito humanista/bairrista, nunca negou o que quer que fosse a ninguém. Foi condecorado pela Câmara Municipal de Ílhavo em 2003, com a Medalha Concelho Vermeil. Faleceu em  15-06-2010 estando sepultado no Cemitério de Ílhavo

Manuel Paião (1926-2005)

Manuel Paião foi um compositor que escreveu mais de 1.500 fados e canções para vários artistas, destacando-se "Oh Tempo volta p'ra Trás". Formou uma dupla inesquecível com Eduardo Damas, letrista. Marcha do Sporting, Poema de Nós Dois, O Segredo que te Disse, Chunga Chunga, foram outros êxitos do autor ilhavense. Recentemente, Carminho incluiu no album Alma, o fado As Pedras da Minha Rua, desta dupla de compositores. Estreou-se como autor de revista no Teatro ABC, com "Daqui Fala o Zé". Faleceu em 2005 estando sepultado no cemitério de Ílhavo

Artur Joaquim Serrão Ramisote (1958-1999)

Nasceu na Rua Dr.º Samuel Maia em 26-09-1958, filho de João Nunes Baptista Ramisote e Maria Fernanda Pereira Serrão. Fez a instrução primária na Escola Nº1, seguindo para a Escola Industrial e Comercial de Aveiro, onde obteve o Curso de Contabilidade e Administração e mais tarde, na Escola Náutica Infante D. Henrique, Paço de Arcos, o Curso Superior e Complementar de Pilotagem. No entanto, a sua grande paixão era a música. Cantor e compositor, fez uma conhecida dupla com Geraldo Alves, participando em vários festivais/espectáculos e foram vencedores do 4º Festival da Canção do Illiabum Clube, em 08-10-1976, com a canção “Ana Vida”, autores de “Noite Semente e Vida”, que Silvina Maria cantou e venceu no mesmo Festival, em 08-05-1982 e compôs ainda a música “Mudança”, vencedora do 9º Festival, em 17-12-1983, interpretada por Silvina Maria. Foi ainda autor de várias Machas Sanjoaninas, tendo composto a Marcha Geral de 1998, com o título “O Mar”. Foi-lhe atribuído o Leme da Música 1997, pela Associação Cultural Desportiva e Recreativa “Os Ílhavos”. Foi colaborador do Jornal O Ilhavense com a crónica “A Arte em Opúsculo”. Ilhavense de gema, sempre colaborou duma forma gratuita, em inúmeras realizações culturais, para as quais era convidado. Faleceu em 11-08-1999, com 40 anos, estando sepultado no Cemitério de Ílhavo.




Próximo

Referências